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  • Foto do escritorKaique César Bragé

#AHistóriaCarregaResistência : Coligay, a primeira torcida LGBT+

Nós sabemos como o passado pode ser doloroso, mas também sabemos como ele pode ser uma narração de aprendizado e inspiração. E nesse passado de luta, temos a resistência de um grupo que ocupou seus espaços de direitos e bateu de frente com o machismo da época.

A Coligay foi a primeira torcida organizada LGBTI+ do Brasil. Nasceu no território gaúcho em 10 de abril de 1997, na cidade de Porto Alegre - RS. Torcendo pelo Grêmio futebol clube, a Coligay subiu as arquibancadas pela primeira vez na cidade de Santa Cruz - RS, para assistir e vibrar em uma partida contra o rival, Internacional Clube, na fase classificatória do Campeonato Gaúcho.



A iniciativa foi dada pelo empresário e dono da boate Coliseu, Volmar Santos, que viu a partir da paixão pelo Grêmio, a oportunidade de criar uma torcida que acompanharia o time por muito tempo. Sendo composto inicialmente por 60 integrantes LGBT's gremistas, majoritariamente por homens gays, sua existência persistiu durante a Ditadura - uma época conversadora e opressiva - se tornando um marco político da época.


“Em acintoso desafio ao machismo gaúcho, foi fundada, no mês passado, em Porto Alegre, uma insólita torcida futebolística, a Coligay, de cujos membros se exige apenas não levar muito a sério a masculinidade” (“Gente”, Veja, 01/06/1977). Fonte: Nexo Jornal

Tornou-se uma torcida fiel que acompanhou o Grêmio por todo o interior do estado do Rio Grande do Sul, chegando a alugar uma Kombi para prosseguir com as viagens. A Coligay (r)existiu no período de maior vitória da história do Grêmio, por isso, sendo considerada até como um amuleto para o resto da torcida. Mas nada foi fácil, entrando em um terreno totalmente machista e homofóbico, gerou reações negativas de outros torcedores, jogadores e dirigentes do Grêmio que repudiavam a existência do movimento liderado por Volmar. Na tentativa de coibir a Coligay, as agressões verbais eram frequentes durantes os jogos nos estádios de futebol. Sabendo dos riscos existentes, os integrantes faziam aulas de caratê com o intuito de se defender de agressões físicas inesperadas por parte de torcedores homofóbicos.


Fonte

Infelizmente, grupo não durou muito. Entretanto, inspirou a criação de outras torcidas LGBT's como a Flagay, do Flamengo (1979) e a Fogay, do Botafago, mas que por medo de represálias não marcaram presença ativa nas arquibancadas como a Coligay.

Nos dias atuais, a existência da Coligay é utilizada ainda por muitos torcedores rivais de maneira pejorativa, com o intuito de associar a homossexualidade aos torcedores Gremistas. Em 2009, no jogo contra o Caracas, uma faixa escrita "Coligay" foi estendida no setor adversário como método de provocação.

Apesar disso, a história da Coligay deve ser vista como inspiração pelos novos movimentos LGBTI+, que devem enxergar a coragem e a determinação do grupo que "botou a cara a tapa" durante a Ditadura. A Coligay foi um movimento capaz de colocar em pauta a homofobia e o machismo nos estádios de futebol, reivindicando o direito da comunidade LGBT+ de ocupar livremente os espaços esportivos da época.


Texto inspirado : El País ; Nexo Jornal


Autor:

Kaique César Bragé

Coordenador do Coletivo Ser e acadêmico de engenharia.


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